domingo, outubro 22, 2006

Recado

Levaste-me contigo quando partiste sem razão. Ainda hoje te espero para me devolveres o coração.
Sinto-te à distância incauta do pedaço de mim que carregas, por isso te peço que voltes e mo devolvas. Sinto-me preso a memórias poeirentas, dolorosas, gotas de mágoa que ferem de longe, me arrastam em pranto, em dor aguda no peito, em temporais de lágrimas salgadas secando-me a pele do rosto. Aos poucos os meus olhos escurecem ao adensar-se o abismo em que caio.
Isto não é uma carta, é apenas um recado urgente pedindo-te a vida de volta para que ela possa continuar. Não posso viver para sempre preso a ti...mas para me desprender preciso que voltes e me devolvas o que te peço e me faz falta...depois podes novamente abrir asas e voar por onde queiras...já não quererei saber...e, ao contrário de agora, serei feliz por assim ser.

Carta de um traidor...

Estou a escrever-te este bilhete enquanto ela dorme de costas voltadas para mim, mas quase que aposto que ela ouve o resmalhar da minha pele nua na cadeira e o arranhar da caneta no papel. Estou ainda suado do calor do corpo dela a esfregar-se no meu, sinto-me ainda um pouco excitado para dizer a verdade, mas ao mesmo tempo sinto uma acidez cortante rasgar-me o peito ao rever a mentira que te tenho feito viver. Sinto até humedecerem-me os olhos ao pensar na tua solidão na cama que partilho contigo em outras noites. Revejo a nossa vida, o nosso amor...sei que agora me vais desacreditar, mas a verdade é que quando falo de amor é em ti que penso...amo-te, apesar de tudo.
Em beleza ela não se compara a ti, és infinitamente mais bonita, mesmo os contornos do teu corpo são mais delicados, mais suaves...não sei se é por isso que me custa agora tocar-te, procurar-te...sinto-me como se estivesse a profanar um santuário. És sem dúvida mais interessante que ela, e adoro chegar a casa e perder-me em conversas contigo ouvindo as gargalhadas dos míudos no quarto a brincar. Gosto de te olhar nos olhos e sorrir-te... e quando menos me esforço consigo até esquecer-me de que existe mais alguém que, de certa forma, te substitui num dos lados da que devia ser a nossa vida. E então contemplo-te como a única mulher da minha vida. Mas quando a luz se apaga de noite, a imagem dela começa aos poucos a invadir-me e a minha pele começa a desejar contacto. Odeio-me por isto. Fecho os olhos e imagino-lhe o corpo nú, espojado na cama prestes a receber-me de braços abertos. Nesses momentos deixo o meu corpo separar-se da minha mente que arrasta consigo o meu coração. Nesses momentos existo só através dos poros da pele, só através das sensações físicas que deixei de ter contigo e sem as quais não consigo deixar de viver...eu sei que não consigo, já tentei.
...Estou sem palavras, embebido em lágrimas de culpa que escorrem pelo meu corpo abaixo. Sinto-me sujo mas incapaz de resistir, fraco e insatisfeito porque sinto ainda assim um resquício de vontade de o continuar a fazer...de te continuar a trair mesmo amando-me tu tanto e eu tanto a ti...
Estou a ouvir o lençol roçagar no corpo dela que se mexe suavemente...sem dúvida tem estado acordada todo este tempo. Sinto-me novamente invadido pelo que abomino, impelido a abraçá-la, senti-la e deixar-me levar pelos impulsos do meu corpo. Sou um fraco...mas prometo que é por pouco tempo, vou conseguir resistir. Talvez num próximo momento de lucidez omo o que brotou estas palavras...Não consigo resistir-lhe...apesar do esforço, desvaneces-me da mente...o corpo dela ondula na minha direcção, chama por mim desenfreadamente, não me controlo.
Quem sabe ela não encontre estas palavras amarrotadas no caixote e me abandone, não consigo fazê-lo sozinho...talvez ela te dê a conhecer esta folha de papel pois que eu não sou capaz.
Apesar de tudo amo-te...mas ela espera-me...

sábado, outubro 14, 2006

Escrevo-te porque te amo...

...ou assim o julgo. Sinto uma rajada tépida arrepiar-me quando te aproximas.
No mar dos teus olhos mergulho e afogo-me sem resistir, porque é nele que busco o ar que me falta quando te vejo. Imagino-me a tocar os teus lábios, a sentir a pressão carnuda nos meus enquanto entre nós flui o rio do nosso amor.
Não sei se sentes o mesmo, mas neste momento quero apenas preocupar-me em contemplar-te, beber-te e sonhar-te. Vejo-te longe, mas a proximidade que reconheço nas minhas fantasias é ainda suficiente para me aquecer o coração.
Um leve vislumbre desenha-me um sorriso que me inunda e se alastra por mim. Fico mesmo um pouco atrapalhado quando me enleio nos meus movimentos e me engasgo nas minhas palavras na tua presença. Aos poucos vou tentando amealhar uma réstia de coragemque me permita avançar, mas quando te vejo, a que com tanta convicção juntei, descubro-a perdida por entre os buracos dos bolsos...por mais que volte atrás no caminho sei que não a vou encontrar e tenho de começar tudo de novo.
Sonho com o teu mais leve movimento, o teu mais pequeno sorriso, a tua mais sincera gargalhada...encubro as tuas imperfeições com o véu que me cobre os olhos e me esconde o que não quero saber. Tento em vão descrever-te pois que me perco em palavras dúbias, vagas e insuficientes para te entenderem. Estás muito além disso, daí ninguém me compreender...Esquece-los, como eu faço quando me aninho no calor de te gostar, te adorar...te amar? Tenho a dúvida, mas sinto-me tão feliz mesmo olhando-te apenas...é preciso mais?

sexta-feira, outubro 06, 2006

Despertar...

Hoje acordei com as saudades que tenho de ti espalhadas no lençól, as lágrimas da tua ausência a ensopar a almofada. A minha pele desenhava a frio o contorno do teu corpo encostado ao meu enquanto que os lençóis aqueciam o resto. O teu cheiro preenchia o teu lado da cama, e por entre uma névoa indistinta de desejo vi o teu sorriso desvanecer.
Não sei como explicar-me a mim próprio a tua distância pois que um lado de mim sonha ainda que estás perto. Acredita então que quando te disserem que me viram sorrir é porque nesse instante te imaginava ainda perto de mim e que apenas te havias ido por momentos.
Quando me olho no espelho vejo-me ainda com os teus nos meus lábios, e as tuas mãos espalhadas no meu corpo. Levanto-me ainda com a tua mão na minha, e o teu beijo a voar na minha direcção enquanto abandono o nosso canto. Adormeço sentindo-te ao meu lado, embora acorde com a agrura da certeza de que o não estás. Os dias...passo-os ansiando chegar a casa para te encontrar à minha espera...quando descubro que estás ausente desmorono-me e deixo-me cair em ruínas na cama. Quedo-me em pranto, confuso, perdido no turbilhão de memórias que me apunhalam o coração donde verto o sangue das saudades que se espalha nos lençóis onde acordo todos os dias.
Eis como estou...contigo longe vejo-me a afastar de mim próprio também...se me leres por favor responde, ao menos para eu me poder confortar sabendo que ainda me lembras (por muito que tal não passe de fantasia).

quarta-feira, outubro 04, 2006

Carta de um desconhecido

Todas as noites me deixo cair na cama, inundado pelas lágrimas que em vão correm com os teus contornos a brilharem nelas. Lanço-me na escuridão dos meus olhos fechados mas apenas me deixo levar num turbilhão de agruras e desgosto. Sinto o meu coração encolher de angústia, sufocando-me no seu desespero. Agarro-me ao peito vendo-te nos meus sonhos.
Impávido revejo o teu riso, a tua despreocupação perante os meus sentimentos por revelar.
Vejo-te cruel, lançando-me como malabarista mas ignorando se me deixas cair ao chão. Mas depois recuo nas minhas acusações porque, no fundo, te sei inocente. Pois que não desconfias do que arde cá dentro por ti...não sabes dos desígnios para ambos que habitam os sonhos deste vagabundo que se martiriza...não sabes o destino que anseio e que desejo do fundo do coração.
Não sabes o meu nome, não sabes quem sou, embora me conheças melhor do que possas imaginar. Apenas tens estas letras como prova do que sinto por ti...mas nem elas alguma vez te percorreram os olhos...pois que são escritas por um cobarde, miserável e eterno sonhador que deixa o medo de te perder conquistá-lo, antes até de se dar a conhecer.

Novo começo...

Mais uma aventura...mais desatinos de uma alma perdida que vagueia sem rumo.
Com destino certo, mas desviado do caminho de cada vez que o tenta alcançar...
Aqui ficam desabafos...fictícios, reais...só eu saberei a distinção...mas todos arrancados ao cerne do coração.
Abraços.

Adeus (estranha forma de dar as boas-vindas)

É na tua ausência que me perco. Me faço estranho ao mundo em redor. Desde que me deixaste que me cerrei às pessoas, aos sítios…a tudo quanto me possa lembrar de ti. Vagueio pelas ruas numa tentativa inesperada de dissolver a lembrança da tua face nas paredes dos edifícios, e nos rostos dos transeuntes. Inundo os meus ouvidos de sons de trânsito para afogar os teus sussurros nas noites quentes, na varanda do meu quarto contemplando na escuridão do candeeiro fundido da rua a lua nova no céu estrelado de Agosto. Faço-me surdo às vozes femininas que se assemelham ao teu timbre para que me não desfaça em ruínas, e antes me possa reconstruir com outras pedras, outros tijolos, embora alicerçado nos teus braços envoltos em mim. Não te quero simplesmente apagar porque foste uma parte importante de mim. Cravaste-te a quente na minha carne, no meu coração, desenhaste o teu corpo e os teus olhos verdes na minha pele, como uma tatuagem, e tornaste-te remendo dela. Quem quer olhe para mim no futuro quero que te veja reflectida nos meus olhos, e se possa aí aninhar junto a ti para aos poucos poder ocupar o teu lugar.
Escrevo-te sabendo que não me vais ler. Apenas preciso de soltar estas palavras para me poder soltar de ti. Estranhamente, escrever-te ajuda-me a esquecer-te. Em segredo tenho a esperança de que ao guardar estas letras numa qualquer caixa de cartão, te encerro a ti num baú de memórias que apenas voltarei a abrir quando elas me forem indiferentes e eu tenha dificuldade em achar-lhes a importância. Quando ao vê-las soltar uma gargalhada enternecida por ver algo tão longínquo e distante.
Por enquanto fazes-me falta. Uma falta que sei não vir a ser suprimida pela tua presença, mas sim pelo esquecimento dela, pelo aceitar da tua distância e da inviabilidade do teu regresso. Até o temo. Estranhamente sei que se regressasses me tornarias a abandonar algum tempo depois. Por isso peço-te que não regresses porque sei que te aceitaria de volta sem qualquer hesitação, desculpa ou justificação, e então enlouqueceria quando de novo me deixasses e te afastasses para te esconderes de mim para o resto da vida. Adeus.”